Já parou pra pensar nisso? Se você é escritor, provavelmente sim. Mas normalmente a carreira do autor é vista muito mais como arte do que como ciência, não é mesmo? E não que não seja necessário estudo, mas ouvimos constantemente que histórias são um tiro no escuro.
Mas e se houvesse uma espécie de best-sellômetro? E se eu te disser que ele existe?
As premissas deste artigo estão baseadas no livro O Segredo do Best-Seller: Tudo o que você precisa saber para escrever um livro campeão de vendas. Suspeito? Continue a leitura, que irei mostrar alguns pontos interessantes abordados no livro e que tipo de embasamento eles possuem. Quem sabe você não se anima a ler e aí pode tirar suas próprias conclusões?
O livro supracitado é de autoria de Jodie Archer e Matthew L. Jockers e foi um dos meus “achados” na Bienal do Livro de SP este ano. Os dois cientistas alegam ser possível fazer previsões de quem serão os próximos livros best-sellers com até oitenta por cento de chance de acerto! Segundo eles, há um tipo de DNA escondido nos campeões de vendas, e é sobre isso que vamos conversar agora.
Quais temas são campeões de vendas? Qual a porcentagem média de vírgulas, interrogações e contrações nos best-sellers? Como estes dados podem estar associados ao sucesso? Estas são só algumas das questões abordadas.
Há um dado curioso: autores contemporâneos que têm sido notórios aparentemente possuem algo mais do que habilidade em gramática, enredo, construção de personagens, etc. Tais autores parecem possuir uma sensibilidade específica a respeito da condição humana, e é através dela que constroem reviravoltas de peso durante a trama. “Mas e quando o sucesso é além do normal?‘, indaga o livro. E se pudéssemos, enquanto autores e profissionais do mercado editorial, ter um maior controle disso? Com essa questão em mente Archer e Jockers desenvolveram “o algoritmo” durante cinco anos, através do que batizaram de “best-sellômetro”.
“A propaganda é a alma do negócio“, diz-se repetidamente. Apesar disso o estudo revelou que a entrada para a lista dos mais vendidos está muito mais associada ao manuscrito do autor e de sua capacidade de colocar as palavras certas na ordem certa do que num plano de marketing ou no quanto um autor pode gastar nele.
Durante a leitura, um dos aspectos que considerei mais importante foi a relação entre as curvas dramáticas e a vendagem. A partir de gráficos os autores analisaram — inclusive através de batimentos cardíacos — como ocorre a reação a determinados trechos da história e como isso pode influenciar o leitor a continuar virando as páginas (e o livro a se tornar um campeão de vendas).
O caminho de um milhão de dólares fica em uma batida boa, forte e regular.
A impressão digital linguística também possui um capítulo de destaque. Um dos exemplos citados é o da escritora JK Rowling, autora da série Harry Potter, que após a fama escreveu sob o pseudônimo Robert Galbraith. Ela mudou o gênero de escrita, o público, os tópicos, mas continuou a mesma em padrões como o uso de preposições e pronomes. Nós temos nossos ‘tiques’ tanto na fala quanto na ecrita, marcando nosso estilo — e podem ser detectados pelo algoritmo.
As primeiras frases de um livro também importam. Os autores citam, entre outros exemplos, a frase introdutória de ‘Orgulho e Preconceito‘, de Jane Austen: “É uma verdade universalmente conhecida que um homem solteiro, em posse de grande fortuna, deve estar procurando uma esposa.” Para os autores, essa frase imprime personalidade e parte dela está na ironia da expressão ‘verdade universamente conhecida‘.
As melhores frases de abertura… contêm todo o conflito de uma história de trezentas páginas em umas vinte palavras ou menos.
As contrações também caracterizam os best-sellers, e isso acontece pela sensação de ‘voz moderna, crível e autêntica‘ que elas causam em nós. Mas nossos personagens já não usam tanta exclamação. Reticências, por outro lado, estão mais presentes, e costumam representar pensamentos inacabados. E temos um maior número de pontos finais, um indicativo de frases mais curtas e com mais ação. Advérbios e adjetivos estão mais escassos — King tinha razão!
E você já parou pra pensar em porque títulos com a palavra GAROTA estão vendendo tanto nos últimos tempos? Pois Archer e Jockers pensaram. Além de uma análise desse fator, eles abordam a recorrência do artigo THE nos títulos de best-sellers e em quais casos é sábio substituí-lo por artigos indefinidos.
Os autores batem várias vezes na tecla da “proximidade humana como tema”. Este parece ser o recurso mais utilizado entre autores bem-sucedidos. Mas não se engane: um best-seller é o fruto de uma série de fatores — alguns descritos aqui, outros que você encontrará lendo o livro. O Segredo do Best Seller é uma leitura enriquecedora, que faz o leitor refletir e abrir horizontes.
A partir de 2799 características e analisando inúmeros livros escritos nos últimos 30 anos, Archer e Jockers nos trazem um trabalho que muda nossa ótica em relação à literatura e à escrita, sem, contudo, torná-la algo puramente mecânico.
O Segredo do Best-Seller: um livro muito bem embasado que certamente vai afetar o seu modo de entender o mercado editorial.
