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A Àrvore da Mentira



A mentira gera seus frutos. Também pode-se dizer que ela é viciante, pois a partir do momento em que se conta a primeira são necessárias outras para mantê-la. Mas e se esse conceito saísse do campo das ideias e se tornasse um objeto? E se houvesse de fato uma árvore que se alimentasse de mentiras? Essa é a premissa do livro de Francis Hardinge.


Somos, antes de tudo, apresentados a Faith, a filha de um homem da fé, o Reverendo Erasmus Sunderly, que é também um pesquisador de fósseis. Por alguma razão desconhecida, ele e sua família migram para a pequena ilha inglesa de Vane. Logo Faith descobre que a mudança foi ocasionada por uma acusação contra seu pai: seria verdade que o estimado reverendo teria trazido a comunidade científica um fóssil falso? Isso é algo de que Faith duvida com veemencia.


Logo a garota perceberá que fugir não foi uma boa ideia, pois os rumores chegam também a Vane, fazendo com que Erasmus e toda a Família Sunderly se tornem mal vistos na ilha.


E tudo se complica quando Faith encontra os escritos do pai, relatando uma espécie desconhecida de árvore, que se alimenta de mentiras e em troca delas, revela segredos. Seria possível tal coisa?



As Verdades d'Ávore da Mentira


Há duas temáticas muito marcantes na narrativa de Francis Hardinge: o papel das mulheres e a Evolução. O livro se passa poucos anos após o lançamento de A Origem das Espécies, de Charles Darwin, e portanto numa época em que esses dois temas são centrais na sociedade.


Sentimos todo o furor que o livro deve ter causado entre a elite britânica, que se encontrava na corda-bamba entre fé e ciência. Erasmus é a representação mais forte dessa dualidade: um religioso e cientista, cheio de dúvidas de como harmonizar esses dois mundos sem negar nenhum deles.


"Achávamos que éramos os reis das eras. Agora descobrimos que toda nossa civilização não tem sido nada além de um pequeno berçário, mal-iluminado, no qual brincamos com coroas de papel e cetros de madeira[...] Somos um piscar de olhos, uma piada em meio à tragédia."

Dentro deste contexto historico, vemos também como era o tratamento dado às mulheres e como ele influenciava na própria imagem que elas tinham de si. Faith, por exemplo, é uma garota que ama as Ciências Naturais e outras variadas áreas do conhecimento, sendo mesmo autodidata em algumas matérias. Mas o pai não a encoraja, pois vê no filho o único motivo de real orgulho. Transcrevo agora parcialmente um diálogo entre ele e Faith, daqueles de deixar qualquer pessoa minimamente feminista com raiva:


— A honestidade é recomendável para um homem, mas para uma mulher ou menina é essencial se ela quiser ter algum valor. Escute, Faith. Uma menina não pode ser corajosa, nem esperta, nem habilidosa como um garoto. Se não for boa, não é nada. Entende isso?


Pela perspectiva de Faith também vemos a hipocrisia entre o que os homens pediam das mulheres e entre o que eles praticavam: "Pai. O severo padroeiro da honestidade. A luz firme do julgamento. Ele pedira à filha que mentisse para proteger os segredos dele."


O mais interessante para mim, neste livro, não foi a árvore da mentira em si, embora seja uma premissa deveras interessante, e na qual podemoss traçar muitos paralelos com a realidade. Mas estes dois outros assuntos — as mulheres e a questão fé x ciência — fizeram desta uma leitura enriquecedora e cheia de reflexões. Francis Hardinge entrou para a minha lista de autores a serem melhor desbravados em futuras leituras.


Por isso, recomendo fortemente que você leia A Árvore da Mentira.

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